[Resenha de Tinta] Mensagem de Uma Mãe Chinesa Desconhecida

Autora: Xinran
Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535918021
Ano: 2011
Páginas: 272
Tradutor: Caroline Chang
Nota:5/5
Sinopse: Em Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, Xinran aborda com delicadeza um dos aspectos mais cruéis e polêmicos da sociedade chinesa contemporânea, e dá voz às mães que não puderam vivenciar a plena maternidade por terem dado à luz bebês do sexo feminino.







Olá Pessoal,
A resenha de hoje é do livro que escolhi para o Desafio Alfabeto Literário do Mês de Feveiro. Escolhi Xinran, porque esse não é o primeiro livro que leio dela, já li "Os que os Chineses não Comem", onde ela narra os costumes e as condições de vida dos chineses, pricipalmente dos camponeses, após a Revolução Cultural.
Dessa vez, a autora explora o destino das mães e filhas chinesas imersas na politica do filho único e o destino dessas mulheres.
Preparados para se emocionarem?
Então me acompanhem nessa resenha.
#Resenha:
Esse é um livro não ficcional que aborda a Cultura Chinesa e sua politica socialista.
Se você não conhece Xinran, uma pequena apresentação é necessária.
Xinran, nascida em 1958 no Ano do Grande Salto Adiante e tendo vivenciado sua adolescência em plena Revolução Cultural de Mao, se tornou jornalista e radialista, comandando o programa Brisas na Madrugada, onde por meio de cartas que recebia narrava  a vida e a situação de vida dos chineses.
Entre muitas dessas cartas, uma pergunta era reccorente: Porque minha mãe chinesa me abandonou?
Nesse livro ela narra as pesquisas que fez sobre o assunto.
"No final de 2007, o número de crianças orfãs chinesas adotadas no mundo todo chegou a 120 mil. Essas crianças foram levadas para 27 países e quase todas eram meninas.A maior parte dos chineses acha inacreditáveis o número da adoção, assim como acham dificil crer que crianças chinesas tenham encontrados mães e lares em tantos países."
Baseada nesse número e na pergunta fio condutor do livro, Xinran começao livro narrando a situação de uma moça que indo para universidade, acabou  apaixonando-se por um rapaz . mE encontros clandestinos, engravidou. E não sabia. Diferente das culturas ocidentais, sexo na China é tabu. As meninas e mulheres chinesas desconhecem o tema e muitas delas, mesmo nas capitais, não tem ideia de como se "produz" um filho e quais os sintomas da gravidez. A moça teve o bebê. Uma vergonha para a familia. Foi expulsa da casa paterna, não só por ter engravidado "clandestinamente" mas por ter gerado na primeira gravidez uma menina, afinal quem garantiria a sobrevivência da alma dos ancestrais? Só os homens garantem a linhagem e o primeiro filho necessariamente deve ser um homem. Forçada a abandoná-la, até hoje chora a perda de sua filha.
Somado ao desconhecimento, outro fator de abandono de meninas  é  a política do filho único que vigorou na China até inicio de 2016.
Se você pode ter um filho apenas, ele necessariamente deveria ser menino. Ter mais de um filho, significava a perda de emprego, da casa, das rações de comida( A China é uma República Socialista onde tudo provém do Estado) da assistência médica e é impossibilitava os pais de conseguir um outro emprego. Sendo assim, quem gostaria de ter uma menina?
Nas regiões rurais a situação ainda é pior.
"Uma boa mulher deve dar a luz a um menino- toda aldeã casada sabe disso. É não só o dever sagrado como também a mais fervorosa esperança de seus sogros. Então, em alguns vilarejos mais pobres, se a primeira criança é uma menina, o desafortunado bebê é abandonado ou asfixiado logo após o nascimento."
Na China rural, a política do filho único não vigora, porém a distribuição de terra é feita de acordo com o sexo. Os homens ganham o correspondente a um acre de terra. As mulheres apenas 1/16 disso. Porém ao se casar, ela não leva seu acre, o que faz com que a família que a recebe tenha mais uma boca para alimentar. O nascimento de mulheres faz com que a família empobreça.
A autora narrou no livro uma visita que fez a uma aldeia chinesa e se hospedou em uma casa onde uma menina nasceu e morreu. Afogada em um balde de água suja.
Ainda  a o caso dos "Guerrilheiros do Nascimento Extra" uma população flutuante que sem poder entregar suas filhas "extras"aos orfanatos, já que elas não tem certidão de nascimento e sem coragem de assassiná-las, vão deixando as meninas pela cidade, nas estações de trem, em grandes centros urbanos.
"...Sim, foram. Nas estradas ou nas ferrovias, por toda a China, abandonamos nossas filhas, Aquela que a senhora viu foi a quarta.Ela era uma boa menina, e tão bonitinha...Meninas nascem para sofrer. É uma pena que não sejam meninos...Se eu tivesse um filho, eu voltaria direto para casa... estou esperando o dia em que a minha mulher vai acertar..."
Com a frase emblemática "Toda mulher que já teve um bebê sentiu dor, e as mães de menininhas têm o coração cheio de tristeza" Xinran nos mostra um lado feio da China, onde a vida humana só tem valor  e onde ser "alimentício" e ser mulher é o pior castigo que pode ser infringido ao ser humano.
É um livro ao mesmo tempo reflexivo e doloroso. Eu li chorando em diversas partes, seja pelo desespero das mães que entregam ou matam suas filhas,  das que se matam por isso.-O suicídio é a quinta causa de mortes na China e 90% dos casos, é de mulheres, que tiveram meninas. - Seja pelo desespero dessas filhas em saber mais sobre a China e porque, as  sobreviventes  foram retiradas e levadas para quilometros de distância de sua terra natal.
No fim, Xinran não só revela ser uma dessas mães, porque também foi obrigada a se separar de sua filhinha, uma menina que quis adotar. ( Ela tem apenas um filho homem, Pam-pam) como fala da criação da "The Mother's Bridges of Love" que auxilia e ensina a cultura chinesa para  os orfãos espalhados pelos quatro cantos do mundo.
O apêndice é composto de duas cartas de mães adotivas, "agradecendo" as mães chinesas as doações de seus bebês, e relatando que elas são muito amadas, por suas famílias adotivas.
Um livro para ser lido, pensado e sentido.
Indico a todo mundo, principalmente às mulheres. Mães ou filhas.
Até mais, 

                                      





3 comentários

  1. Que livro forte! Acho muito importante ter escritores que mostram como as pessoas reais podem ser tão cruéis. Mas não sei se teria coragem de lê-lo, pelo menos não neste momento.

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  2. Nossa, parece realmente ser um livro muito forte! Se eu, lendo a resenha, já fiquei com água nos olhos, não quero nem imaginar como seria lendo a própria história... Triste pensar que isso é uma realidade, e não uma simples ficção dos livros... Não consigo nem pensar na dor que deve ser para essas mães ter que abandonar suas filhas, nem como é o sofrimento dessas filhas, que tiveram que crescer sem uma família, sendo muitas delas sacrificadas... Triste realidade que dói em nossos corações... Não acho que eu aguentaria ler...
    Kisses =*

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  3. Não sei se estou na época de ler este livro...Sei lá, me parece triste e forte demais. Por tudo o que leio sobre a China, eles "pecam" em muitas coisas, não só nisso. É tão ilógico isso das meninas...pois, se existirem só homens, algumas gerações ficarão, obviamente, sem descendentes. Por isso eles mudaram a política.
    Isso da adoção das meninas me fez pensar bastante em tráfico de crianças também, seja para escravidão ou escravidão sexual. Será que não ocorre?
    Beijos.

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