Resenha de Tinta: Golem e o Gênio

DESAFIO ALFABETO LITERÁRIO

Autor: Helene Wecker
Páginas: 514
Editora: DarkSide
Ano: 2015
ISBN: 9788566636482
Nota: 5/5

Sinopse:
Os confrontos e as barreiras vividas por duas culturas tão próximas, ainda que aparentemente opostas. Em Golem e o Gênio, premiado romance fantástico que a DarkSide® Books traz ao Brasil em 2015, o leitor se transporta à Nova York da virada do século XX, em uma viagem fascinante através das culturas árabe e judaica. Seus guias serão poderosos seres mitológicos. Continuar lendo...



Resenha:
Parte dos contos de fadas são baseados em lendas e a grande maioria dessas lendas são européias. Mas eu tive a grata oportunidade de ler esse livro baseado em uma lenda judaica. Uma verdadeira imersão em culturas tão ricas e antigas. E como um conto de fadas, há o amor. Ohhhh o amor! Não importa como e nem com quem, o amor vence o mal, espanta o temporal! O azul e amarelo tudo é muito belo!

Então senta e viaja comigo do Oriente ao Ocidente nessa linda história!
E essa história é sobre o amor entre duas criaturas mágicas e míticas. Um amor impossível. Mas essa sempre é a premissa de um conto de fadas né.
Golem é basicamente um boneco de barro com vida que obedece cegamente a um mestre, mas cuja natureza sempre é má, destrutiva. É o mito do Frankenstein dos judeus. Eram criados para trabalhos braçais ou proteção, mas o problema era mantê-los sob controle. Muitas vezes, saiam matando todo mundo. Se você quer ler um pouco mais sobre isso, tem aqui e aqui.
“... Os resultados podem não ser tão precisos como você deseja. Há um limite para o que se pode fazer com o barro. — Então seu semblante anuviou. — Mas lembre-se disso: uma criatura não pode ser totalmente afastada de sua natureza primordial...”.
Voltando a nossa história, nossa golem, sim, uma mulher, foi criada para ser esposa e dessa forma, foram acrescentadas características diferenciadas dos golens tradicionais. Calma, não havia uma linha de produção funcionando dessas criaturas, mas é que nunca se havia encomendado uma golem para ser esposa. O diferencial dela começa por aí. Ela é criada pelo velho feiticeiro Yehudah Schaalman, um estudioso da cabala e de outros mistérios cujo grande objetivo na vida é descobrir o segredo para a imortalidade. Uma obsessão que o preenche totalmente. A encomenda parte de um homem corrupto, Otto Rotfeld, um jovem atraente, arrogante e sem caráter, o que fazia com que fosse um solteirão. Herdou os negócios do pai, mas depois de quase acabar com tudo, decide cruzar o oceano em busca de novas oportunidades em Nova York, em 1899, quando imigrantes estavam vindo de todos os lugares do mundo para ganhar a vida na América, terra de fartura. Ele então embarca no Baltika e leva sua golem ainda desanimada, em um caixote de madeira no setor de cargas. Mas no meio da viagem, sentindo-se entediado, decide acordar a esposa. O que ele não sabia, é que iria ficar muito doente e viria a morrer no meio da viagem, deixando a golem sozinha e com poucos dias de nascida. A confusão em sua mente é enorme, já que os golens atendem aos pensamentos de seus mestres. Com o mestre dela morto, os pensamentos de todos a sua volta começaram a impeli-la a tentar realizar a vontade das pessoas. Chegando ao porto, a criatura percebe que não vai ter como apresentar documentos, se lança ao mar e caminha pela lama do fundo até chegar à cidade. Ao caminhar de forma errante pelas ruas, sente-se afogar em meio a tantos anseios e sonhos inalcançados. Mas então ela percebe um senhor a olhando de forma diferente e logo sente que ele sabe o que ela é! E apesar do medo e saber de todo o perigo o rabino Avram Meyer se aproxima e a ajuda, ensinando tudo que ela precisa para sobreviver a esse mundo, enquanto busca uma forma de ajuda-la: destruindo-a ou educando-a e protegendo. E ele lhe dá o nome Chava que significa vida.
Agora era ele quem estava chocado. “Seus poucos dias foram assim tão difíceis? Sim, percebo que devem ter sido.” Pousou uma mão reconfortante no ombro da Golem; seus olhos eram melancólicos, mas gentis. “Sou o rabi Avram Meyer”, ele disse. “Se você permitir, eu a tomarei sob minha proteção e serei seu guardião. Eu lhe darei um lar e qualquer orientação que puder, e juntos decidiremos qual o melhor rumo a tomar. Você está de acordo?”
E assim Chava se torna a protegida do rabino e sua vida ganha um novo e inesperado rumo.
No mesmo período em que Chava está engatinhando em sua vida, o latoeiro libanês Boutros Arbeely recebe uma encomenda peculiar de Maryam Faddoul, esposa de Sayeed, com quem tem um café na Washington Street, na Pequena Síria. Ela lhe trouxe uma linda garrafa de cobre para restaurar.
“Fascinado, Arbeely manuseava a garrafa em suas mãos. A peça era visivelmente antiga; mais antiga, talvez, do que imaginavam Maryam e sua mãe.”
O que Arbeely não sabia é que a garrafa estava servindo de prisão para um djim há muitos e muitos anos e, ao iniciar o trabalho de restauração, ele acabou libertando a criatura.
“Entre as diversas qualidades de djins – uma raça muito diversa, com formas e habilidades variadas –, ele fazia parte de uma das mais poderosas e inteligentes. Sua forma verdadeira era insubstancial como uma golfada de ar, invisível aos olhos humanos. Nesse formato, era capaz de conclamar os ventos e cavalgá-los pelo deserto. [...] Criatura do fogo da mesma maneira que os humanos são considerados criaturas da terra. E, como todos os seus irmãos djins, desde os repugnantes devoradores de carne ghuls aos trapaceiros ifrits, ele nunca permanecia muito tempo assumindo a mesma forma corporal.”
Arbeely o ajuda dando casa, emprego e um nome – Ahmad. E ele começa então se adaptar a sua nova realidade. Mas seu espírito livre de djim não o deixa se acomodar nessa situação e logo ele começa longos passeios noturnos para conhecer seu novo lar e tentar achar uma razão para essa existência. Em um desses passeios, ele conhece uma moça chamada Sophia e se encanta por ela, a seduzindo. E isso é normal pra ele, encantar e seduzir donzelas humanas. Desde as areias do deserto até as grandes mansões de Nova York. Mas isso acaba lhe trazendo alguns sérios problemas com enormes consequências.
Esse livro é pra ser saboreado, lido com muita calma e tranquilidade. É uma leitura cálida como as mãos de Ahmad segurando as mãos frias de Chava. Mas muita atenção para não cometerem o mesmo erro que eu: ansiedade pelo encontro dos dois. Me apeguei tanto a isso (culpo os romances de época..aff), que em certo momento, a leitura me cansou e parei. Mas então retornei com um novo olhar e pude então ver toda a beleza da escrita da autora, da história desses grandes colonizadores da América e a história da religião judaica em toda a sua tradição e fidelidade de seus filhos.
Esse é o romance de estréia da autora. Já pensaram quando a pessoa tiver ‘experiência’? Ao escrever essa resenha, me bateu um sentimento de nostalgia por lembrar de toda a pureza de Chava e da saudade que Ahmad sentia de sua terra, seu palácio, seu deserto...quase correndo ali e relendo!
A edição é um espetáculo à parte. DarkSide é conceito A em suas capas, diagramação e tudo mais. Perfeição define seus livros.
Portanto, não percam mais tempo e leiam!




5 comentários

  1. Respostas
    1. Oi Van! Tenho certeza que vai adorar! Bjs e obrigada pela visita!

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    2. Oi Van! Tenho certeza que vai adorar! Bjs e obrigada pela visita!

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  2. Achei a história bem original, mas ele é muito lento, quase desanimei de ler. É como você disse deve ser lido com calma, levei duas semanas para concluir a leitura, cada dia um pouquinho. No final fiquei feliz de não ter abandonado.

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    1. Oi Lisandra! É que quando fala em fantasia, esperamos guerras, fugas, lutas e escapadas por um triz...Mas a autora quis nos 'educar' no sentido de degustar da leitura..rsrs. A sensação de ter terminado é deliciosa né. Um livro inesquecível! Obrigada pela visita, volte sempre. Bjs

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