Resenha de Tinta: Surpreendente!

Autor: Mauricio Gomyde
Edição: 1
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580578089
Ano: 2015
Páginas: 272
Nota :5/5 e favorito.

Sinopse:"Pedro Diniz tem um desafio e um problema pela frente.

O desafio: filmar um roteiro magnífico capaz de surpreender o público e conquistar o prêmio mais importante do cinema brasileiro.

O problema: não ter a menor ideia de como fazer isso." veja mais no skoob.




Antes de começar essa resenha vou pedir desculpas (novamente!), pelo atraso nessa publicação. Dessa vez a culpa foi da minha ressaca literária que me fez levar dias para terminar esse livro porque eu não queria que ele acabasse.  Depois, eu fiquei pensando em como falar dele, se ele é tão surpreendente. Sim, estou sendo redundante de propósito porque, sem dúvidas, esse é o melhor adjetivo para ele.
Mas vamos lá, vou tentar explicar a explosão de sentimentos que esse livro me trouxe.



O que é chance para você?
O dicionário define chance como a possibilidade de alguma coisa acontecer. Já em matemática, é a probabilidade de ocorrência de um evento dividido pela probabilidade da não ocorrência desse mesmo evento.
Possibilidade. Probabilidade.
Para Pedro Diniz, cineasta recém-formado, essas palavras não existem.
Chance é uma palavra certa. Ele quer ganhar o Cacau de Ouro, na ficção, o maior prêmio do cinema brasileiro. Já teve duas possibilidades. Uma vez ficou com o Tatu de Madeira, na outra foi indicado ao prêmio mas ficou entre os cinco melhores. Dessa vez, essas palavras não entrarão em seu roteiro. Ele quer o primeiro lugar.
O problema é que com baixo orçamento, ele precisa de uma ideia "surpreendente" mas, ele ainda não sabe qual.
Tudo na vida de Pedro resume-se a cinema. Curador da última cinemateca de São Paulo, o Cultural, e gerente de uma locadora na periferia, Pedro é um entusiasta do cinema-felicidade e acredita que sua missão seja levar a magia do cinema à vida das pessoas. Talvez porque o script inicial da sua vida real tenha sido dramático. Filho de pais primos em 1º grau, o rapaz desenvolveu uma degeneração na córnea que o deixou com apenas 70% da visão central. Mas como nos finais felizes, ele virou um milagre da medicina quando sua degeneração estabilizou.
A teoria de vida de Pedro (e agora minha  também!) é que:

"O cinema, a música boa e a literatura são instrumentos da Santíssima Trindade para salvar o ser humano como espécie".

 Pedro é um otimista. Não é o rapaz que vive para repetir o bordão "ó vida, ó azar" de Hyard, um dos personagens preferidos do seu amigo, também cineasta Fit, que coleciona bordões dos personagens Hanna-Barbera. Comparando Pedro a um filme, ele está mais para Tempos Modernos. Diante das adversidades, sorria.(smile)

"Sabe eu acho que sou um caçador de sentimentos felizes.Um Indiana Jones, com meu chapéu e chicote. Porque  vida me deu um tremendo susto e depois ela se redimiu, Provavelmente percebeu que eu não deveria ficar cego. E a minha retribuição é falar sempre coisas boas,sobre felicidade, sobre como olhar pelo ângulo bom dessa vida."

E é sendo assim, plantando sementes de otimismo com seus filmes que ele conquista a amizade de Mayla, a "garota mais criativa da região", gerente do Cultural, que esconde de sua tia o fracasso do investimento e conhece Cristal, a ruiva "surpreendente" que trabalha de garçonete no bar do local e é estudante de Física Nuclear, mas que não quer "estourar quarteirões por aí." A quem ele quer provar que:

" - Nossa vida é feita de um monte de momentos esquecíveis entremeados por pouquíssimos momentos inesquecíveis. Por que não darmos a nós mesmos o presente de tentar viver um inesquecível?"

Assim, Pedro vai vivendo até que um "cliffhanger" do destino mina seu otimismo. Quando o "mágico de Oz", O deus supremo do cinema em um truque de mágica, mexe com o destino do rapaz e  CHANCE passa a significar:

Crueldade,Humilhação, Angústia, Negação, Covardia, Egoísmo?

 É necessário que ele reveja todo o enquadramento de sua história. Para isso, ele sai em uma "road trip" com seus 3 amigos, Fit, Mayla e Cristal em busca do plano geral da sua trajetória, tentando entender o real significado dessas palavras. E o que elas representarão para cada um nessa jornada.
Eu não quero dizer para vocês que esse livro é um sick-book (mas ele é!) porque ele é muito mais que isso.O livro não é focado na doença degenerativa de Pedro, mas é claro que ela é importante. O tema rapaz com deficiência visual que quer ser o maior cineasta do país está presente durante toda a história, mas esse não é o resumo. A ambientação é toda na vida de Pedro, seu amor pela sétima-arte e a mudança que ele quer operar na vida das pessoas com o cinema.
Para tentar explicar a miríade de sentimentos que tive durante a leitura, eu também construí um acróstico:
Criativo: Excetuando-se os livros  críticos sobre filmes ou livros baseados em cinema, eu nunca tinha o visto como tema literário. Exaltar a sua força para mudar o mundo e criar um personagem que com problemas de visão, quer viver de gravar belas imagens é surpreendente! O autor consegue fazer até o menos entusiasta das grandes cenas "enxergar" a maravilha das filmagens e das cenas descritas no livro. Além da criatividade do tema, os diálogos inteligentes do livro soam como uma bela canção. Eu marquei vários quotes, passagens e indicações e foi muito difícil escolher o que mostrar a vocês! Maurício escreve prosa como poesia e o resultado é uma história simples que se torna inesquecível.

Hipnótico: Embora eu tenha levados dias para concluir essa leitura, isso não aconteceu porque o livro é chato ou pesado. Foi porque eu sabia que iria ter uma ressaca literária "braba" depois dele e eu posterguei o máximo que pude a leitura, lendo e relendo algumas passagens para que o livro não acabasse. Eu sabia que se realmente o pegasse eu só o soltaria no fim. Depois de alguns dias enrolando, foi exatamente o que aconteceu. Uma madrugada em claro, e eu terminei o livro.
Arrebatador: Por todos os motivos acima, esse livro se tornou um dos meus favoritos.
Necessário: Todo mundo precisa de otimismo. Precisamos acreditar que vai dar certo. Então, toda vez que "a vida não for um filme e eu não a entender" tirarei o livro da estante e me contagiarei com o "cinema-felicidade" de Pedro e deixarei que ele seja meu semeador.
Contagiante: Surpreendente é um livro para torcer. Você vibra com Pedro, se entristece com ele, teme e depois que a semente plantada por ele em seu coração vingar, você vai querer, como eu, sair falando dele por aí.
Emocionante: Sim! Parafraseando Markus Zuzak: "você vai rir, chorar e ainda vai querer mais." Eu me diverti em várias cenas com a espontaneidade de Pedro, a originalidade de Cristal, os bordões de Fit, o desconhecimento criativo de Mayla. Mas também chorei, principalmente no final, quando de tão perfeita que foi o detalhamento da cena, eu "vi" a história de Pedro e como ele, relembrei cada momento, cada detalhe. Não foi um choro triste, foi um choro de emoção. Como em todo belo final de filme, eu só pude me levantar e bater palmas para essa história.
Depois disso tudo, o que ainda me surpreende é que esse livro ainda não tenha sido filmado. Com certeza é uma história para garantir o "Cacau de Ouro" e só tem uma coisa que  não me surpreendeu na leitura: o talento de Mauricio para escrever lindas histórias. Que ele seja um dos maiores escritores nacionais da atualidade, não é surpresa nenhuma.
Leia e deixe que uma semente  de felicidade também seja plantada em seu coração!
Até mais,
P.s: O uso reiterado da palavra surpreendente e suas derivações nessa resenha foi proposital, assim como também acontece no livro,