[Desafio Literário 2012] Clara dos Anjos

O Ministério dos Blogueiros e o Mundo de Tinta advertem: Esse post é muito GRANDE

Autor: Lima Barreto
Número de páginas: 168
Editora: Ática
ISBN: 8508045190
Ano: 1999
Nota: 8/10 

Sinopse: Em Clara dos Anjos relata-se a estória de uma pobre mulata, filha de um carteiro de subúrbio, que apesar das cautelas excessivas da família, é iludida, seduzida e, como tantas outras, desprezada, enfim, por um rapaz de condição social menos humilde do que a sua. É uma estória onde se tenta pintar em cores ásperas o drama de tantas outras raparigas da mesma cor e do mesmo ambiente. O romancista procurou fazer de sua personagem uma figura apagada, de natureza "amorfa e pastosa", como se nela quisesse resumir a fatalidade que persegue tantas criaturas de sua casta: "A priori", diz, "estão condenadas, e tudo e todos parecem condenar os seus esforços e os dos seus para elevar a sua condição moral e social." É claro que os traços singulares, capazes de formar um verdadeiro "caráter" romanesco, dando-lhe relevo próprio e nitidez hão de esbater-se aqui para melhor se ajustarem à regra genérica. E Clara dos Anjos torna-se, assim, menos uma personagem do que um argumento vivo e um elemento para a denúncia.

Resenha: 
    Clara dos Anjos trata-se de um romance sobre a sociedade da década de 1920. Começou a ser escrito em 1904, foi concluído em 1922 e lançado apenas em 1948. É uma das últimas obras de Lima Barreto.
   Para caracterizar melhor os personagens, o autor conta casos de seus passados que ilustrem ou sejam a causa de suas personalidades. Para ilustrar melhor essa resenha eu separei alguns trechos do livro (estão em vermelho) mas não sei como ficou TÃO grande o.O #sorry
   A história gira em torno da tentativa de Cassi Jones conquistar Clara dos Anjos. Tanto o livro trata da vida e personalidade de Cassi que o livro poderia se chamar Cassi Jones, mas acontece que crápulas não merecem ter o nome no título de um romance ò.ó
   
   Quem é Cassi Jones?  Deixe o livro falar por si mesmo:
“Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; [...] o Senhor Cassi Jones, de tão pouca idade, relativamente, contava perto de dez defloramentos e sedução de muito maior número de senhoras casadas.”
   Lembrem duas coisas da época: Adultério era crime e Virgindade coisa sagrada.
Então porque ele não era preso? Bem, de início tinha o pai alguma influencia e a mãe passava-lhe a mão na cabeça sempre, porque ela se sentia muito superior aos suburbanos que a cercava. Tanto é que ‘Jones’ não era nome do sujeito Cassi, sua mãe que se dizia parente de um inglês chamado Lord Jones. E todas as moças que ele cercava não tinham como se defender:
“Em geral, as moças que ele desonrava eram de humilde condição e todas as cores. Não escolhia. A questão é não houvesse ninguém, na parentela delas, capaz de vencer a influencia do pai, mediante solicitações maternas.”
   O cara tirava dinheiro de rinha de galo e jogos de azar. Para trabalhar não tinha prazer, mas para cuidar dos galos acordava todo dia muito cedo. #vaientender 

Mas vamos falar da pessoa realmente importante no romance: Clara
“O carteiro era pardo-claro, mas com cabelo ruim, como se diz; a mulher, porém, apesar de mais escura, tinha o cabelo liso. Na tez, a filha tirava ao pai; e no cabelo à mãe.”
   Era uma boa moça, porém muito inocente. A mãe vivia dentro de casa, se recusava a sair e tinha obsessão em proteger sua única filha. Logo, Clara também vivia presa. A mãe tanto protegia que a menina nada sabia da vida. Ao conhecer Cassi cantando em seu aniversário se apaixona perdidamente pelas promessas de amor eterno. Ao saber das histórias dele, ao invés de desistir do namoro passa a acreditar que todos tinham inveja dele e o caluniavam. O final é previsível não é?

   Mas estamos falando de Lima Barreto, o cara que escreveu ‘O triste fim de Policarpo Quaresma’ então além desse romance temos também a apresentação da, então, Capital da República o lindo Rio de Janeiro. Apenas esqueça as praias e os cartões postais, você vai viajar um pouquinho mais fundo na cidade. Não tão fundo a ponto de chegar de fato à Niterói e São Gonçalo, apenas uma rápida passada na infância de Cassi por lá.
Fonseca é um bairro de Niterói
   A história se passa no subúrbio (acho que hoje chamaríamos de favelas), próximo à Central do Brasil (alguém aí lembra do filme?) em bairros como Meyer, Inhaúma, Engenho de Dentro e outros de nomes muito mais criativos como Boca do Mato. (Desafio alguém a dizer nome de bairro mais legal do que CalaBoca, esse fica em São Gonçalo rsrsrsrs).
 
   O bom dos romancistas como Lima Barreto é que nós que nascemos nesse século podemos ver que a sociedade mudou, mas não melhorou nem piorou. Algumas coisas continuam na mesma.
O preconceito doentio continua:
“Ele sempre observou a atmosfera de corrupção que cerca as raparigas do nascimento e da cor de sua afilhada; e também o mau conceito em que se têm as suas virtudes de mulher. A priori, estão condenadas;”
Os políticos ainda são comprados e compradores:
“Barcelos não valia nada e só prestava pequenos serviços em vésperas de eleição. Quando elas estavam distantes, fiava com má cara um cálice de cachaça.”
O transporte público ainda é uma miséria:
“Nessas horas, as estações se enchem e os trens descem cheios. [...] Esses são os expressos. Há gente por toda parte. O interior dos carros está apinhado e ois vão entre eles como que trazem quase a metade da lotação de um deles. Muitos viajam com um pé num carro e o outro no imediato [...] alguns mais ousados, depoendurados no corrimão de ferro, com um único pé no estribo do veículo.”

E cada um vai levando a vida do jeito que pode. Alguns são sensatos:
“- Não podia saber naturalmente – justificou o rapaz. – Saio cedo de casa para o escritório e volto tarde, pois janto e almoço na cidade. Agora, eu chamei o senhor para lhe dizer uma coisa: se o senhor continua a perseguir minha irmã, meto-lhe cinco tiros na cabeça.”
Outros nem tanto. Basta ver todas as desgraças que aparecem nos jornais.
 
   É claro que existem pessoas boas, como a Dona Margarida, uma imigrante parte russa, parte alemã que veio para o Brasil ainda muito pequena com o pai. Ficou viúva cedo com um filho para criar e nunca desistiu, tinha o trabalho das mulheres honestas da época, o bordado e a costura. Para complementar a renda tinha uma criação de bichos como galinhas e patos (coisa muito comum nas casas do subúrbio). Sempre ajudava Clara e ensinou a menina a bordar e costurar. E temos também o padrinho de Clara, o senhor Marramaque que tentou em vão avisar sobre Cassi e até tentou impedir o namoro. 

   Não estou dizendo que o autor é um gênio completo, mas o livro dele mostra bem o lado obscuro da sociedade. Nós somos capazes de ser muito podres.
    
    Fica a dica para uma leitura um tanto quanto séria. Rever a sociedade da época, como era a vida e decidir se você está levando a sua do jeito certo ;)

PS: Antes que alguém resolva dizer que estou de perseguição com Niterói e São Gonçalo, eu sou moradora dessa terra de ninguém! (não que eu ache isso algo realmente bom, mas tem gente que gosta rsrsrsrsrs) 

6 comentários

  1. Oi Agatha! Eu também escolhi Clara dos Anjos pro desafio. Gostei da sua resenha, o livro é bem real e atual mesmo... Ficou um pouco em aberto o final, não é? Se você quiser imaginar um final para Clara, que apareceu como personagem na Fera Ferida, aqui tem o resumo do último capítulo: http://2.bp.blogspot.com/-LCV_EMlVb3I/Te4gikefQ3I/AAAAAAAAjpI/BhZmvjQ7xsg/s1600/fera%2Bferida%2Bcapa3-tile.jpg

    Eu não gostei desse fim não. Prefiro que ela vire uma lutadora, batalhe, estude mais música e termine feliz... mas como o Barreto é mais pé-no-chão-vida-real, a maior paz que ela poderia encontrar seria esse final de novela mesmo, não é?

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  2. Também quero ler, adorei sua resenha ;)

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  3. Nossa esse livro eh tão antigo q achei q ninguem ia escolhe-lo ou pq jah leu ou pq tem outros mais novos... rsrsrs o final em aberto dá a sensação de vazio q ficou a vida de Clara e eu n acho q ela tenha vocação p freira naum rsrsrs

    Ana, eh uma otima leitua e mt rapida ;)

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  4. Eu nunca li! Parece interessante, quem sabe um dia ele não cruza o meu caminho, né?
    Criei um blog há menos de um mês e estou participando do DL também. Ficarei infinitamente feliz se você puder visitá-lo e, quem sabe, segui-lo e comentar em alguma postagem (entrepalcoselivros.blogspot.com)! Ótima semana pra você! :)

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  5. Cassi Jones. Nossa, que nome inusual para o herói. Gostei. Sem contar que a história sob o seu olhar ficou bem atraente aos meus olhos. Dica anotada!

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  6. Porque só vi essa resenha agora?
    Bom, adorei a imagem do Rei Leão, mas se ele não sabe onde fica o Fonseca, Maricá então nem pensar, kkkkkkkkkk.
    Boca do Mato continua sendo um Sub Bairro do Meier, tenho família lá, kkkkkkkkkk
    Para sua informação Calaboca pertence tanto a SG quanto a Maricá, é metadinha, kkkkkkkkkkkk.
    Só você para resenhar um clássico desta maneira.
    Adorei.
    bjs,

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