Resenha de Tinta: Maus



Maus - A história de um sobrevivente 
Autor: Art Spiegelman
Editora Companhia das Letras
Nota: 5 estrelas


Olá eu aqui de volta! Pra uma leitora voraz eu andei sendo a vergonha da profission. Mas quem tem amigas nunca está sozinha! A Lua e a Sandra me incentivaram a voltar e cá estou. 

Em Dezembro, em uma conversa, um amigo achou absurdo que eu não conhecia Maus. Poucos dias depois, no meu aniversário, ele me presenteou com esta história em quadrinhos. O livro ficou longos 5 meses na minha estante me encarando, me desafiando a lê-lo! Minha última leitura sobre o período da 2ª Guerra e o Holocausto foi A vida em tons de cinza, que me deixou bem infeliz com a humanidade. Nesse período conturbado que estamos vivendo achei que seria bom relembrar o Holocausto e o motivo pelo qual devemos combater as injustiças. Pessoa de exatas que sou, estudo história e ciências humanas através da literatura. Sendo assim, puxei Maus pras minhas mãos.


Considerando que o livro foi escrito/desenhado na década de 1970 e retrata com certa fidelidade a convivência pai e filho, eu me pergunto o impacto real desta publicação na época. O livro todo causa uma angústia inacreditável, tanto as partes da guerra, quanto do presente do autor. O pai dele, sobrevivente de Auschwitz, narra como foi a época da guerra, dos guetos e dos campos de concentração. A entonação dada pelo autor faz parecer que seu pai narra tudo de forma quase mecânica, sem emoção, não sei explicar melhor. Também não sei dizer se ele realmente reprimiu tudo para não enlouquecer _mais_ ou se foi opção do autor não mostrar lágrimas do pai no presente. Mas ele não nos poupou dos detalhes, das cenas de mortos, ou dos corpos desnutridos. O efeito visual é chocante ao extremo. Os judeus são ratos e os alemães gatos, os poloneses são porcos. Os animais no início podem dar a ilusão de uma leitura leve, mas osh, não se iluda!


Sobre a narrativa do passado, nenhuma novidade em relação às outras obras que já li, o que não tira em nada o mérito da obra. Mas a parte que foi novidade é a do 'presente' dos personagens. Fiquei chocada, mas não surpresa, com a percepção do racismo e machismo presentes no livro, com a ingratidão do filho com o pai. Como uma boa equipe psicólogo/psiquiatra faz falta na vida das pessoas. O pai de Spiegelman é o retrato do sobrevivente que não sabe como viver a realidade 'normal'. Extremamente avarento, ele é capaz de deixar uma boca do fogão acesa para não gastar fósforos se não precisar pagar a mais pelo gás usado. Não consegue esquecer a guerra de modo que todo bem material é precioso e útil, mesmo o que não deveria ser. Viúvo, casou novamente com uma judia também sobrevivente, mas não valoriza a mulher. Sendo tratada pior do que uma empregada, aos poucos ela vai se afastando dele alegando que viveu os mesmos horrores mas não ficou igual a ele. Tratando também o filho de modo avarento e cobrando atitudes que este não possui, pai e filho não se entendem e não convivem bem. Achei muito absurdo o filho sugar as memórias do pai e não retornar com um mínimo de gratidão, acreditar que era quase obrigação do pai dividir tão dolorosas memórias. O autor foi sincero até em incluir uma cena do pai sendo racista, e ainda dando uma desculpa terrível para justificar o ato. O quanto ele não deve ter sido julgado ao longo dos anos? 

Senti falta da presença da mãe ao longo da narrativa. Ela está lá como um ser que paira, mas distante demais para ser tocado. Não consegui enxergar como ela casou com Spiegelman pai, mesmo considerando o tempo e os costumes. Queria a versão dela dos fatos, mas bem, o autor também queria e ele deixa isso claro várias vezes.

Mereceu o prêmio Pulitzer, sem sombra de dúvidas!

E você caro leitor, conhece essa obra? Vamos bater um papo.




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