[Resenha de Tinta] O que Há de Estranho em Mim



Desafio Alfabeto Literário - Março

Autora: Gayle Forman
Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580414806
Ano: 2016
Páginas: 224
Nota:3/5
Sinopse: Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. 
Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. 
Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.

Olá Pessoal,
Nas minhas "passeadas" pela blogsfera literária vi que esse livro estava sendo muito lido e o melhor de tudo bem cotado. Curiosa como sou, quis lê-lo também. Aproveitei que o tema do Desafio Alfabeto Literário era letra "G" pulei a fila e o li.
Querem saber o que achei?
Acompanhem-me na resenha.

#Resenha: 
É "normal" uma menina de 16 anos pintar o cabelo de rosa? E passar as noites fora de casa?
Embora fosse boa aluna é normal essa mesma menina viver "enfurnada" em um apartamento de um cara mais velho, acompanhada de um outro rapaz e uma moça, usuários de droga?
Isso é apenas um ataque de rebeldia adolescente ou um problema psicológico sério?
Para os pais ou melhor o pai, já que ele casou-se de novo após a separação com uma mulher que é denominada pela mocinha "a mostra" as atitudes de Brit são sintomas de desajuste psicológico e por isso, resolvem sem consulta-la ou avisá-la, a internarem em uma clínica.Na verdade, durante uma fictícia viagem, Brit é abandonada na Red Rock, um reformatório, travestido de escola- clínica. 
Lá Brit é diagnosticada com TDO, ou transtorno desafiador opositivo.
"O transtorno desafiador de oposição (TDO) é um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade em aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem a forma que eles desejam."Retirado do site Transtornos.org
Não é mentira que a personagem apresenta vários desses comportamentos, mas será que uma internação seria o necessário?
Na Red Rock, com sua rebeldia, Brit não quer se submeter aos tratamentos pouco "ortodoxos" da instituição ainda mais que o principal tratamento é fazer com que as meninas aceitem suas falhas ou trangressões de modo agressivo. Inflingindo a culpa e castigos as que não se submetem.
Mas como sair desse lugar, não seguindo as regras?  Como fazer com que as pessoas percebam que o lugar que deveria ser de "tratamento" é capaz de prejudicar ainda mais as "pacientes"?
Esse não é o primeiro livro que leio da Gayle, eu li "Se eu ficar" e para "Onde ela foi" e mais uma vez eu senti que faltou um algo a mais. Não que o drama de Brit e das meninas com quem faz amizade, as escondidas claro, não seja emocionante, mas ainda assim, poderia ser mais. Talvez seja pelo final "simples" ou porque quase toda a ação do livro tenha "dado certo".
Depois que Brit é jogada no reformatório, toda a ação fica por conta do seu aprendizado de burlar as regras, do seu envolvimento com Jed, o lider da banda onde ela toca (e que é a causa dela passar as noites fora de casa) e da tentativa das meninas que estão lá, essas sim, por motivos espatafúrdios, tentarem provar o horror que é a instituição.
Recheado com lições de auto-estima e frases de incentivo, é um livro que serve, ao meu ver mais para Pais do que filhos. E até de certo modo me lembrou o filme Bicho de Sete Cabeças, protagonizado por Rodrigo Santoro.


"A culpa é uma grande perda de tempo. Não gaste sua energia com isso. Nem comigo."
É difícil contornar os desvios adolescentes, mas nem sempre esse comportamento é alteração psicológica. 
Muitas vezes como dizem é só uma "fase" mas outras não.
Talvez eu já seja muito "adulta" para esse tipo de livro, porque embora entenda que o que foi feito com Brit tenha sido uma temeridade, não consigo culpar de todo o pai dela. 
Existe uma trama que explica o motivo dele ter a jogado lá. Coisa que poderia ter sido resolvido com uma conversa, mas dentre os motivos dele, e assolado pela culpa de não ter feito mais, ou enxergado além, e iludido, essa foi a maneira que ele encontrou.
Uma maneira não eficaz, mas eficiente o suficiente para que a menina mostrasse o mundo quem era e o que ela queria, não que seja o modo correto.
Acredito que o título deveria ter um ponto de interrogação, porque a grande temática do livro é Brit entender o que há de estranho com ela, e o que ela está fazendo naquele lugar.
" A gente acha que a loucura e a sanidade ficam em lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de ilhas vizinhas"
No fim, é um livro bonito, que mostra a grande diferença de pensamento de adolescentes e adultos, que diálogo sincero entre pais e filhos talvez resolvam mais problemas e que a tarefa de educar não pode ser resolvida de qualquer maneira. Não se pode delegar aos outros, seja pessoas ou instituições a tarefa.
"Os adultos tinham abandonado seu papel, buscando refúgio num casulo de ignorância para depois dizer que os filhos é que eram desajustados. Não dava mais para confiar neles. Não havia mis ninguém para nos orientar, para cuidar da gente."
Adolescentes são questionadores e conflituosos. É necessário paciência e atenção.
No Brasil, Bicho-de-Sete-Cabeças causou fez com que o Congresso Nacional proibísse a contrução de instituições psiquiátricas particulares. Torço para que o livro da Gayle, ao menos chame a atenção para o assunto.
Embora seja um livro protagonizado por adolescentes recomendo o livro para adultos. Mais para pais do que filhos.

"Não tem dó no peito
não tem jeito
não tem ninguém que mereça
não tem coração que esqueça
não tem pé não tem cabeça
não dá pé não é direito
não foi nada, eu não fiz nada disso
e você fez um bicho de sete cabeça " 
Bicho  de sete cabeças, Geraldo Azevedo.

Até mais,


Um comentário

  1. O livro tem uma premissa muito interessante, acredito que seja uma história profunda e emocionante. Eu também acho que é uma leitura mais indicada para pais de adolescentes.

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