[DL 2012] Maio - Cuba Libre



Título original: Cuba Libre
Tradução: Paulo Reis
Editora: Rocco
Número de páginas: 304
ISBN: 8532511031
Ano: 2000
Nota: 3/5


Sinopse: A Havana de Leonard não é a ruína de hoje, retratada no filme Buena Vista Social Club. Tampouco, a do ditador Fulgêncio Batista, a quem Fidel Castro e Che Guevara botaram para correr. Mas tem pontos de contato com ambas, embora a ação do livro se passe em 1898, época da guerra hispano-americana, que marca o início do longo domínio americano na Ilha. Uma Havana prostibular, onde as profissionais não aceitam dinheiro, e sim cartuchos de Mauser; e os fuzilamentos, tão comuns, não surpreendem mais.
Leonard se utiliza de um fundo histórico — a explosão do couraçado Maine, em Havana, levou os americanos a lutar contra a Espanha, ao lado dos rebeldes cubanos — para traçar a trajetória de um caubói extraviado, Ben Tyler, que, a pretexto de comercializar cavalos, na verdade faz contrabando de armas. Depois de matar um oficial espanhol, Tyler irá se envolver com Amelia Brow, a linda garota do mandachuva local, com o fuzileiro Virgil Webster, um desmemoriado sobrevivente do Maine, com o jornalista Neely Tucker e o sanguinário Lionel Tavalera, chefe da Guarda Civil.


Resenha

Este livro nos transporta para um momento muito crítico da história cubana: 15 de fevereiro de 1989. Neste dia, o encouradouro USS Maine, ancorado em Havana, explode e 260 tripulantes morrem. Os EUA acusam a Espanha (a qual Cuba pertencia até então) de ser o causador dessas explosões e, usando disto, inicia-se o confronto armado entre estes dois países.

Destroços do Maine
Há muito tempo Cuba já tentava emancipar-se e, por isto, sofrendo grandes represálias, tal como a chamada reconcentración: a distribuição, em campos de concentração, nas cidades e povoados, de milhares de famílias de camponeses, coniventes ou suspeitos de conivência com os revoltosos – as más condições sanitárias e a falta de alimentos causaram cerca de 50 mil mortes. Mas, a forma como os revoltosos, ou guerrilheiros, agiam também causava danos aos interesses comerciais norte-americanos. Juntando a outros fatores, os EUA tinham grande interesse em que Cuba ficasse livre do domínio espanhol (nada altruístas, diga-se de passagem!). Alguns autores até afirmam que, na verdade, quem explodiu o Maine foi o próprio EUA! (não duvido nada!)

- A qualquer momento agora a gente pode entrar em guerra com a Espanha.
- Se acontecer, vai ser uma causa popular, não vai? Ajudar os cubanos a conquistar a independência? Você não vê nada de errado nisso?
- Nem um pouco – disse Tyler. – Só que eu li que a razão principal da nossa entrada na guerra seria para proteger os negócios americanos lá.
- E eu ouvi dizer que os jornais é que estão querendo a guerra – disse Charlie Burke. – Para imprimir a listagem dos mortos em combate e aumentar a tiragem.”(p.16)

Ontem eu conversei com um marinheiro do City of Washington que viu a coisa toda de perto. Ele disse que a primeira explosão levantou a proa do Maine totalmente para fora da água. Com a segunda explosão a parte do meio do navio pegou fogo e se despedaçou. (...) disse que dava para ouvir os homens berrando “Deus Nosso Senhor, me ajuda!” Tinha marinheiros na água, alguns bastante feridos, outros se afogando. O City of Washington e o Alfonso XII mandaram os botes salva-vidas para lá, e o Diva, um navio britânico atracado aqui em Regla, mandou uns barcos.” (p. 24)

Personagens bem estruturados e uma narrativa bem elaborada nos prendem no universo sofrido, injustiçado e cruel da guerra hispano-americana! Americanos: donos de canaviais, jornalistas, homens do exército, comerciantes e até um cowboy bem petulante e cabeça-dura e uma inteligente acompanhante; espanhóis da Guarda-Civil e da cavalaria (hussardos); cubanos e descendentes de africanos entre outros.
Entre o arcabouço de diferentes personagens, é claro, tenho os meus mais queridos e mais odiados!
Em especial, tem um personagem que encaro como o mais bem feito pelo autor: Victor Fuentes, um homem já na sua maturidade, negro, cubano, policial. Um personagem aparentemente secundário, mas que sempre está presente. Nunca tinha certeza sobre de que lado ele estava, o que ele pretendia fazer, quais seus sonhos... NADA! Surpreendi-me com suas façanhas e revira-voltas até o fim do livro!
Como preferido, tenho uma preferida (rsrs): Ameli é uma linda, misteriosa e encantadora americana. No início da história a conhecemos como amante do chefe da polícia de Havana, o espanhol Andrés Palenzuela. Uma personagem instigante e cheia de vontades bem humanas, toda astuta e provocativa! Ri muito das armadas dela!
Aqui uma pouco de uma conversa interessante entre Fuentes e Amelia:

- É tão simples assim?
- O quê? Saber o que se quer fazer? Siga o que sente e não pense tanto.
- É preciso energia – disse Amelia – e força de vontade.
- Sim, é claro.
-E ódio.
- O ódio pode ajudar, mas não é necessário.
- Você me perguntou “Para que você serve?” – disse Amelia, sorrindo ao se ouvir falando. – Me diga para o que você serve, Victor. Você é anarquista, uma espécie de comunista, um coletivista?
(...)- Já basta hoje em dia – disse Fuentes – ser cubano.(p.124)

Olhem só como ela é travessa:

Ela disse: -Ah, não é tão simples quanto você está fazendo parecer. Se eu dizia para Rollie que o amava? A gente pode discutir o que eu fazia com ele, e talvez com outros que você nem sabe. Isso talvez leve algum tempo e você pode acabar mais confuso do que já está. – Amelia começou a desabotoar a blusa. – Por que a gente não fica na simplicidade e tira a roupa. Você não dorme de roupa, dorme, Bem? Vamos esperar até que a gente esteja na cama, completamente nus, para decidir se você quer conversar ou não.(p.197)

Por sua vez, meu “mais detestado”, não tinha como não ser o Lionel Tavalera: espanhol da temida Guarda-civil, sem escrúpulos e sem consciência. Apronta várias durante o enredo!#asco

- Há cinco anos, na África Espanhola – disse Tavalera para Tyler -, os iqar’ ayen declararam guerra contra nós por termos profanado a mesquita deles. Alguns soldados, disseram eles, mijaram nela. Os iqar’ayen são Rifs, uma tribo de berberes. – Tavalera começou a sorrir. – Todo mundo na Espanha adorou aquela guerra. Para aquela guerra vinte nove generais vieram para a África, correram para a África, pois ali tinha uma guerra pura, sem recompensas econômicas. A única coisa pela qual nós estávamos lutando daquela vez era a honra da Espanha. Não havia nem território a ser ganho, só o orgulho e a honra nacionais.
- Aqui tudo parece muito diferente, há muito a ser ganho, esta ilha é uma fonte de riquezas, uma vaca que vem nos dando leite a quatrocentos anos. Meus assim, a inspiração para mantermos a ilha não é econômica, e sim uma questão de honra. Você entende? Você pode estar disposto a dar a sua vida pela honra, mas não pelo preço do açúcar. Na África torturava e mutilava os meus inimigos em nome da honra, para descobrir coisas deles, ou então como castigo. Poderia fazer isso aqui, mas respeito você. De modo que quando eu digo para você contar onde o barco está, você conta. Se você não conta, nós atiramos no seu amigo.”(p. 100)

Gostei muito desse livro, uma mistura de ação e romance com um grande embasamento histórico, um senso crítico afiado e um humor ácido (que adorei!). Pretendo ler outros livros do Elmore Leonard.
*Este livro foi uma cortesia do Grupo Livro Viajante, do Skoob.*

2 comentários

  1. Uma vez Cuba, sempre Cuba... Ô lugar pra ter conflitos esse!!
    Este livro deve ser uma grande aula, claro que colocando personagens fictícios. Interessante...
    Boa dica, gostei!
    Bjinhos
    Ni

    Aliás, tem um selinho pra vc lá no blog da cia, espero que goste. http://ciadoleitor.blogspot.com/2012/02/correio-06-e-mais-selinhos.html

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  2. Muito obrigada Nizete! *__*
    Assim que possível responderemos ao seu selinho! bjinhos

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Agradecemos pelo comentário!