[Desafio Literário] Julho - Gabriela Cravo e Canela

Autor: Jorge Amado
Número de Páginas: 358
Editora: Record

ISBN: -

Ano: 1958

Sinopse:

O romance entre a mulata Gabriela e o árabe Nacib na pequena Ilhéus na década de 20 é um dos grandes clássicos do gênero no Brasil. Escrito em 1958, eterniza as virtudes e defeitos da mulher brasileira: sensualidade, leviandade e submissão.

Resenha:

♪ Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim... ♪

Ok, vai me dizer que quando você viu o título do post não lembrou da música? Se não, duvido muito que tenha lido a frase acima sem musicá-la na cabeça.

Gabriela é assim. É canção, é rima, é prosa e verso, é cheiro, gosto e som. Oh livrinho bom de ler!!!

A história de amor de Nacib e Gabriela é só uma parte bem pequena dessa grande obra de Jorge Amado, a primeira que tive o prazer de ler, mas com toda certeza não a última. Tenho que contar um segredo pra vocês: tenho medo de clássicos. Tenho medo de ler e não gostar, pegar trauma e nunca mais conseguir ver obra alguma do autor na minha frente. Tenho esse medo porque, lá no fundo, eu acho que eu deveria gostar dos clássicos, e que eu é que tenho algum problema, não os livros. É por isso que Gabriela foi meu primeiro livro de Jorge Amado, no auge de meus 23 – quase 24 – anos, pois tinha medo de não gostar.

Nas primeiras 40 páginas meu medo se intensificou. Achei chato, admito. Pra que toda essa explicação, cadê Gabriela? Mal sabia eu que esse danado do Jorge estava me dando um banho da sua literatura, me fazendo submergir naquilo que seria sua história.

Cada um no livro tem sua personalidade, tem seu momento, aparece bem. Você aprende a gostar de Tonico Bastos, e de seu pai, de Mundinho Falcão, das irmãs dos Reis, do professor Josué, do Capitão. E todos eles tecem uma trama tão bonita, que salta os olhos e vira imagem tão facilmente, que não é a toa que esta obra tenha merecido várias adaptações, apesar de eu nunca ter assistido a nenhuma.

Além disso, o cenário ser uma Ilhéus que existiu e existe, com problemas de verdade – o problema do porto realmente existiu, o cacau era e ainda é uma fonte de renda lá, apesar de a praga da vassoura-de-bruxa ter acabado com a supremacia baiana, o Bar Vesúvio e o cabaré Bataclan ainda existem, o primeiro como bar e o segundo como museu – me tocam. As histórias dentro da história são, para mim, as melhores, e o fato de esta ser brasileiríssima, com todos os problemas e particularidades sociais que enfrentávamos e que ainda ocorrem, me tocou o coração.

Gabriela, tão menina foi deflorada pelo tio, velho e doente, gosta é de moço bonito. De velho, gosta não. Quem pode dizer que ela está errada em deitar-se, em amar e ser amada, em andar descalça e comer goiaba do pé, sendo que tão cedo sua meninice lhe foi tirada? Quantas meninas, hoje em dia, ainda não são assim, pelos mesmos motivos de Gabriela?

Só posso dizer que tiro o chapéu para Jorge Amado. E dizer para vocês, leiam, se deixem levar até Ilhéus, e experimentem o cheiro de cravo, e a cor de canela de Gabriela...

Quotes:

“Como pensar em míseros detalhes legais, como o lugar e a data exata de nascimento de uma criança, quando se vivia perigosamente em meio aos tiroteios, aos bandos de jagunços armados, às tocaias mortais?”

“Condenação do assassino, isso jamais! Era contra a lei da terra mandando lavar com sangue a honra manchada do marido”.

“ – Sim, compadre Nhô, lá ninguém se contenta em matar a desavergonhada, com essa coisa de dois ou três tirinhos nela e no safardana. Lá é terra de homem macho e para mulher descarada o tratamento é outro: cortar a peste em pedacinhos, começando do bico dos peitos...”.

“ – Cecílio é um pernóstico, gosta mais das penas do inferno que dos gozos do céu.”

“ – Pra mim, não há nada de que eu goste tanto como de ver Gabriela no meio de um bocado de gente. Sabe no que penso? Numa flor de jardim, verdadeira, exalando perfume, no meio de um bocado de flores de papel...”