Título Original: Between Shades of Gray
Autor: Ruta Sepetys
Tradução: Fernanda Abreu
Número de Páginas: 238
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580410167
Autor: Ruta Sepetys
Tradução: Fernanda Abreu
Número de Páginas: 238
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580410167
Ano:2011
Nota: 10/10
Sinopse: 1941. A União Soviética anexa os países bálticos. Desde então, a história de horror vivida por aqueles povos raras vezes foi contada. Aos 15 anos, Lina Vilkas vê seu sonho de estudar artes e sua liberdade serem brutalmente ceifados. Filha de um professor universitário lituano, ela é deportada com a mãe e o irmão para um campo de trabalho forçado na Sibéria. Lá, passam fome, enfrentam doenças, são humilhados e violentados. Mas a família de Lina se mostra mais forte do que tudo isso. Sua mãe, que sabe falar russo, se revela uma grande líder, sempre demonstrando uma infinita compaixão por todos e conseguindo fazer com que as pessoas trabalhem em equipe. No entanto, aquele ainda não seria seu destino final. Mais tarde, Lina e sua família, assim como muitas outras pessoas com quem estabeleceram laços estreitos, são mandadas, literalmente, para o fim do mundo: um lugar perdido no Círculo Polar Ártico, onde o frio é implacável, a noite dura 180 dias e o amor e a esperança talvez não sejam suficientes para mantê-los vivos. A vida em tons de cinza conta, a partir da visão de poucos personagens, a dura realidade enfrentada por milhões de pessoas durante o domínio de Stalin. Ruta Sepetys revela a história de um povo que foi anulado e que, por 50 anos, teve que se manter em silêncio, sob a ameaça de terríveis represálias.
Resenha:
É difícil começar essa resenha, estou aqui há meia hora e não consegui uma linha sequer. Simplesmente estou atordoada ainda, a história não deixou minha cabeça...
Imagine que você é uma menina de 15 anos com uma vida boa, seu sonho é ser artista e tudo diz que você poderá estudar Artes e ser uma grande pintora. Agora imagine que numa madrugada homens estranhos invadem sua casa e te dão 20 minutos para você juntar suas coisas se não você morre. Depois disso, você, seu irmão de 10 anos e sua mãe são jogados num caminhão junto com outras pessoas que você nunca viu. Seu pai não voltou do trabalho, você não sabe dele. O caminhão para na frente de um hospital. Os homens estranhos chegam com uma menina pouco mais velha que você que acabou de dar a luz, o bebe dela é arremessado em seus braços. Ninguém sabe o que esta acontecendo. E depois disso você é jogado num vagão de trem usado para transportar bois e porcos, junto com mais umas dezenas de pessoas que você nunca viu. No vagão está escrito: ‘Ladrões e prostitutas’. Como você se sentiria?
Assim começou A vida em tons de cinza. Não sei vocês, mas eu não poderia viver em um país em guerra. Eu não teria a coragem que a mãe da Lina teve. Eu não sobreviveria um dia em um campo de concentração ou em um campo de trabalhos forçados.
Quando li A menina que roubava livros pensei nessas coisas, mas a guerra nesse livro era mais longe. Agora não. Eu vi o horror que a Lina viu. Como o livro é contato em 3 1º pessoa, dá para sentir todas as duvidas, pensamentos, esperanças e desespero da menina de 15 anos. Eu não derramei uma lágrima, simplesmente não me permiti. Se eu tivesse deixado uma que fosse escapar, não estaria escrevendo essa resenha agora, estaria na cama, enrolada chorando ainda. E nunca mais ia parar!
O livro é tão forte que em certo ponto pensei: ‘Por que não matam logo essas pessoas? Por que fazer tudo isso? Seria misericórdia matá-los. ’ Uma voz me respondeu: ‘Eles merecem a chance de tentar sobreviver, de suportar isso. Não deixe a esperança abandonar seu coração. ’ Depois outra voz respondeu: ‘E quem vai cultivar os campos? Quem vai catar a lenha? Quem vai trabalhar para manter os soldados confortáveis, aquecidos e fortes para torturar essas pessoas?’
Ainda estou tentando entender como um ser humano pode fazer certas coisas com outro. Mas a intolerância religiosa, a corrupção, a sede de poder e muitas outras coisas estão ao meu redor me dizendo que não é tão difícil assim cuspir em alguém, jogar o corpo morto de seu filho nos trilhos do trem...
Tem uma ‘Nota da autora’ em que ela menciona: ‘Ainda hoje, muitos russos negam ter deportado uma pessoa sequer. ’ Bem, eu também negaria que meus antepassados foram capazes de tantas atrocidades... Não os culpo por isso.
Dou parabéns à autora, ela escreveu uma historia real. Tão real que eu tenho vontade de dizer ‘Obrigado’ a um dos personagens e dizer que acreditei na bondade dele desde o inicio. Que agradeço tudo que ele fez pelos deportados, e que sei que não é culpa dele tudo o que aconteceu.
Recomendo esse livro a quem quiser ter uma idéia do que os homens são capazes, mas atenção! Só leia se você estiver bem, quero dizer, nunca leia esse tipo de livro se você estiver mal. Estou com vontade de ler O diário de Anne Frank e Olga, mas sei que no momento eu não conseguiria agüentar.
Desculpem se me prolonguei demais na resenha, se vocês quiserem ter uma provinha, separei uns trechos do livro:
‘Ele jogou o cigarro no piso limpo da nossa sala e o esmagou com a ponta da bota. Estávamos prestes a ter o mesmo destino daquele cigarro.’
‘Era a ultima vez que iria me olhar num espelho de verdade por mais de uma década’ – Com que freqüência damos valor as pequenas coisas?
“Vocês algum dia já pensaram em quanto vale a vida de uma pessoa? Naquela manhã a vida do meu irmão custou um relógio de bolso.”
“- É melhor ele se acostumar.
Acostumar-se com o quê, com a sensação de raiva descontrolada? Ou com uma tristeza tão profunda que era como se a sua prórpia alma tivesse sido arrancada de dentro de você e forçada goela abaixo, como aquela ração saída de um balde imundo?
- Você já se acostumou? – perguntei.
- Já. Já me acostumei.”
“Nós nos agachamos com os vestidos embolados em volta da cintura para fazer xixi.
Estávamos de frente umas para a outras, de cócoras.
- Elena, por favor, pode me passar o talco?- pediu a Sra. Rimas enquanto se limpava com uma folha.
Começamos a rir. Era uma cena ridícula: nos três ali agachadas, segurando nossos joelhos. Gargalhamos de verdade. Mamãe riu tanto que seus cachos se soltaram do lenço que ela havia amarrado na cabeça.
- O senso de humor - disse mamãe – isso eles não podem nos tirar, não é?”
“Minha fome era tanta que nem me lembrei que não gostava de beterraba. Nem me importei com o fato de elas terem sido transportadas dentro da rouba de baixo suada de alguém."
Com as lágrimas não derramadas da
Oiie,
ResponderExcluirAcho que é exatamente deste livro que estou precisando. Quero livros reais, que me passem emoções e que me façam perceber o quanto o ser humano é cruel, sim preciso deste livro. Adorei sua resenha, muito bem escrita. Consegui compreender as sensações que você teve durante a leitura.
Beijos
Amigas entre Livros
Céus, não fui a única! Ned, depois que terminei de ler esse livro eu corri pra fazer a resenha, pq precisa colocar ALGUMA coisa pra fora! Mesmo assim passei o resto da madrugada acordada, encarando o teto e pensando no que aconteceria se naquele momento homens do governo invadissem minha casa...
ResponderExcluirCorri para começar Tinta Perigosa hoje, ou ficaria obcecada demais com A Vida Em Tons de Cinza pro meu próprio bem.
Ótima resenha
Bjos
http://desigusson.wordpress.com/
Só de ler sua resenha já fico com um nó na garganta. A maldade humana é infinita mesmo...
ResponderExcluirAcabei de ler meu primeiro livro desse tema para o desafio e estou tomando coragem de começar o segundo. Difícil.
bjo
O título e a capa são bem interessantes, a história bem emocionante e cruel. Excelente escolha, apesar dos pesares...
ResponderExcluirRealmente, a resenha escrita com alma e a mais pura emoção, reforçou minha vontade de ler o livro. A temática me interessa. Bjs
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